Tony Giles nasceu com um problema na visão e ficou cego aos 10 anos. Mas isso nunca o impediu de viajar. Aos 32 anos, o inglês já encheu 3 passaportes com vistos de 56 países. E decidiu contar como enxerga as belezas e os problemas de cada lugar no recém-lançado livro Seeing the World My Way (sem tradução em português). Giles falou com a SUPER por telefone de 3 cidades diferentes - La Paz, Londres e Atenas.
por Felipe Datt
Como você faz para conhecer os locais que visita?
Não consigo enxergar sequer sombras. Isso significa que preciso de todos os outros sentidos para absorver a cidade de acordo com o tipo de superfície, as músicas e vozes, as comidas, os aromas. Tenho um senso único em relação aos outros turistas, porque uso todos os meus sentidos em conjunto, algo raramente feito por quem enxerga.
Como esses sentidos ajudam a diferenciar os lugares?
Pelo ar sei se estou perto da praia, como quando sinto o ar salgado de Seattle ou Bodrum, na Turquia. Ou se a cidade é poluída. De Yerevan, na Armênia, minha lembrança é uma combinação de fumaça de escapamentos, chaminés de fábrica e cigarro. Também aprendo sobre a cultura. Sei que estou em Chicago logo ao sair da estação de ônibus por causa do cheiro da carne e do jazz e do blues que ouço. Já Buenos Aires e Lima me dão a sensação de caminhar por cidades interioranas, em vez de grandes megalópoles, pois consigo ouvir o som de pássaros e cachorros.
Qual é sua cidade favorita?
Na verdade prefiro natureza a cidades. Consigo captar muito pela pele e uso meu corpo para sentir o ambiente. Quando caminho por uma floresta, tenho a sensação de que o ar está comprimido. Se parece que ele se expandiu, sei que cheguei a uma área aberta. Posso detectar mudanças na pressão do ar e na temperatura. E sinto que pode chover se o vento sopra mais forte.
Mas se tivesse de escolher uma cidade...
Bangcoc, na Tailândia, é incrível. O cheiro de sujeira, dos incensos, da comida de rua, dos canais e dos esgotos a céu aberto se junta ao calor, à umidade e ao barulho do trânsito para atacar meus sentidos simultaneamente. Por outro lado, Veneza me decepcionou. Para mim a cidade cheira a esgoto, não importa quão romântica seja para os outros.
Como você se orienta?
Ando com uma bengala e na mesma direção do trânsito ou do vento. Uso o barulho do tráfego para me guiar. Se preciso encontrar um metrô, uma boa indicação é sentir um grande número de pessoas indo e vindo, ou a vibração que o trem provoca na calçada. Também conto as ruas que atravesso quando me locomovo e refaço o caminho na volta. Em algumas cidades é mais difícil transitar. Como em Atenas, onde as pessoas estacionam os carros na calçada.
O que achou do Brasil?
O trânsito no Rio, em São Paulo e no Recife era impressionante, com motoristas buzinando e motores de carros que soavam como armas de fogo. Em Salvador tinha batuque o dia todo, um barulho parecido com pessoas batendo à porta. Gostei muito do povo, das praias de areia macia e dos sucos de frutas frescas. Que país maluco!
Você já sentiu medo de viajar sozinho?
Sou confiante. Viajar sozinho nunca foi um problema e nunca será. É minha paixão.
Não consigo enxergar sequer sombras. Isso significa que preciso de todos os outros sentidos para absorver a cidade de acordo com o tipo de superfície, as músicas e vozes, as comidas, os aromas. Tenho um senso único em relação aos outros turistas, porque uso todos os meus sentidos em conjunto, algo raramente feito por quem enxerga.
Como esses sentidos ajudam a diferenciar os lugares?
Pelo ar sei se estou perto da praia, como quando sinto o ar salgado de Seattle ou Bodrum, na Turquia. Ou se a cidade é poluída. De Yerevan, na Armênia, minha lembrança é uma combinação de fumaça de escapamentos, chaminés de fábrica e cigarro. Também aprendo sobre a cultura. Sei que estou em Chicago logo ao sair da estação de ônibus por causa do cheiro da carne e do jazz e do blues que ouço. Já Buenos Aires e Lima me dão a sensação de caminhar por cidades interioranas, em vez de grandes megalópoles, pois consigo ouvir o som de pássaros e cachorros.
Qual é sua cidade favorita?
Na verdade prefiro natureza a cidades. Consigo captar muito pela pele e uso meu corpo para sentir o ambiente. Quando caminho por uma floresta, tenho a sensação de que o ar está comprimido. Se parece que ele se expandiu, sei que cheguei a uma área aberta. Posso detectar mudanças na pressão do ar e na temperatura. E sinto que pode chover se o vento sopra mais forte.
Mas se tivesse de escolher uma cidade...
Bangcoc, na Tailândia, é incrível. O cheiro de sujeira, dos incensos, da comida de rua, dos canais e dos esgotos a céu aberto se junta ao calor, à umidade e ao barulho do trânsito para atacar meus sentidos simultaneamente. Por outro lado, Veneza me decepcionou. Para mim a cidade cheira a esgoto, não importa quão romântica seja para os outros.
Como você se orienta?
Ando com uma bengala e na mesma direção do trânsito ou do vento. Uso o barulho do tráfego para me guiar. Se preciso encontrar um metrô, uma boa indicação é sentir um grande número de pessoas indo e vindo, ou a vibração que o trem provoca na calçada. Também conto as ruas que atravesso quando me locomovo e refaço o caminho na volta. Em algumas cidades é mais difícil transitar. Como em Atenas, onde as pessoas estacionam os carros na calçada.
O que achou do Brasil?
O trânsito no Rio, em São Paulo e no Recife era impressionante, com motoristas buzinando e motores de carros que soavam como armas de fogo. Em Salvador tinha batuque o dia todo, um barulho parecido com pessoas batendo à porta. Gostei muito do povo, das praias de areia macia e dos sucos de frutas frescas. Que país maluco!
Você já sentiu medo de viajar sozinho?
Sou confiante. Viajar sozinho nunca foi um problema e nunca será. É minha paixão.
Abraços Fraternos
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